11/12/2024
Como transformar o mercado público brasileiro: pilares fundamentais para a evolução
Meus queridos leitores,
Neste artigo, gostaria de encerrar o nosso ciclo de 2024 no blog SOL com uma reflexão abrangente sobre os principais pilares que podem ajudar a transformar o mercado público brasileiro. Ao longo deste ano, analisamos diferentes ângulos desse mercado complexo e desafiador. Agora, faremos uma pausa na continuidade temática para nos permitir uma visão geral, voltada à resolução de problemas, à atuação estratégica e à colaboração entre todos os envolvidos.
A compra pública no Brasil é essencial, não só para os fornecedores e para o governo, mas também para a sociedade na totalidade. Trata-se de um mercado de dimensões continentais, com mais de 5.500 municípios e demandas descentralizadas e imprevisíveis. Como se isso não bastasse, ele envolve uma ampla cadeia de negócios e relacionamentos que, muitas vezes, se deparam com a falta de padrões e com a incerteza dos preços e das demandas.
Neste contexto, o caminho para um mercado público mais eficiente passa pela valorização dos dados, pela gestão integrada e pela educação dos profissionais. Exploraremos como esses três pilares podem transformar esse ecossistema.
Contextualização do mercado público
O mercado público brasileiro é singular em sua magnitude e diversidade. Com uma enorme quantidade de municípios que compram diretamente, um sistema ainda em transição para centralizar informações no PNCP (Portal Nacional de Contratações Públicas) e uma ausência de padrões nas especificações e nos preços, fornecedores e governos enfrentam desafios consideráveis. Em um cenário de volatilidade de preços e complexidade na gestão de contratos, a imprevisibilidade dificulta o planejamento de fornecedores que, por sua vez, dependem de uma estrutura governamental organizada para atender às suas expectativas.
Entretanto, é fundamental reconhecermos que, apesar desses obstáculos, o mercado público também representa uma oportunidade de impacto positivo e inovação. Para que esse potencial seja realizado, a transformação precisa ser alicerçada em três pilares fundamentais:
- Dados de inteligência;
- Gestão integrada de processos;
- Educação para capacitação dos atores envolvidos.
1. O poder dos dados no mercado público brasileiro
Nunca foi tão importante para o mercado público tomar decisões fundamentadas em dados robustos e confiáveis. Em um ambiente repleto de variáveis, a análise de dados emerge como um diferencial capaz de antecipar tendências de preços, mapear as regiões com maior potencial de crescimento e compreender as dinâmicas de licitação e homologação. A análise de dados, quando bem direcionada, oferece uma visão estratégica do mercado, permitindo que empresas antecipem movimentos do setor, minimizem riscos e otimizem recursos.
Por exemplo, o estudo de precificação realizado pelo In.hub, iniciativa educacional entre IBIZ/In.hub e Insper, com base no Índice de Compras Públicas (ICP), oferece insights valiosos sobre a volatilidade de preços no setor público. Este tipo de indicador ajuda os fornecedores a ajustarem suas propostas de maneira mais eficiente, antecipando flutuações e reduzindo incertezas. Planejar em cima de dados evita tanto o desperdício quanto a escassez, melhorando a previsibilidade das demandas e das ofertas.
2. A importância da gestão integrada
Embora os dados sejam essenciais, eles são apenas o primeiro passo. Sem uma gestão eficaz e centralizada, as informações valiosas podem se perder em um emaranhado de processos descoordenados. É comum ver a ausência de integração e coordenação entre áreas nas próprias empresas, bem como nas suas interações com parceiros e com o governo.
Para garantir que o ciclo de compras públicas seja eficiente, é essencial ter uma visão centralizada das operações. Empresas que atuam no mercado público brasileiro precisam alinhar internamente todos os elos envolvidos no processo, além de coordenar parceiros e fornecedores. Falta de atualização de contratos, desorganização de documentações e dificuldades em cumprir requisitos de compliance são desafios recorrentes, que podem ser minimizados com a implementação de uma gestão centralizada. Um exemplo disso é o case da Ford, que conseguiu melhorar seu faturamento e transformar suas operações ao integrar sistemas e processos.
3. O papel transformador da educação
A transformação do mercado público brasileiro vai além das ferramentas e dados; ela exige que os profissionais de todas as áreas sejam bem preparados e tenham uma visão estratégica e alinhada dos processos. A educação é um fator determinante para a melhoria desse setor. Profissionais capacitados conseguem atuar de forma mais colaborativa e estratégica, compreendendo as particularidades das compras públicas e contribuindo para um ecossistema mais sustentável.
A iniciativa da IBIZ/In.hub em parceria com o Insper, que promove discussões colaborativas e educativas entre governo e fornecedores, é um exemplo relevante. Esse tipo de iniciativa é essencial, pois capacita tanto o setor privado quanto o governo, permitindo que ambos compreendam melhor suas responsabilidades e alcancem soluções colaborativas.
Casos reais de sucesso
As transformações são possíveis e exemplos concretos demonstram isso. A Bayer, por exemplo, vem usando dados para planejar melhor as suas ações no mercado público, ao mesmo tempo em que se mantém consoante às políticas de compliance e constrói uma relação saudável e transparente com o governo. A Ford conseguiu reverter o declínio de um de seus concessionários e aumentou seu faturamento em 64% ao transformar suas operações. Outras empresas, como a Danone, mostraram ser possível explorar mercados inexplorados e aumentar significativamente o faturamento (+ de 350%) com estratégias baseadas em dados e educação. Esses exemplos reforçam que, quando se alia conhecimento estratégico, gestão e dados, o sucesso é uma consequência.
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Queridos leitores,
Chegamos ao fim deste ciclo de reflexões sobre o mercado público. Este é um momento crítico de transformação, em que cada ação conta para melhorar a eficiência e a transparência de todo o setor. Para avançarmos, é necessário o compromisso de todos os elos da cadeia: o setor privado precisa investir em dados e processos; o governo, em planejamento e educação.
Se unirmos tecnologia, inteligência de dados e uma forte educação colaborativa, criaremos um ambiente de compras públicas mais justo, competitivo e transparente. Esse é o caminho para um futuro onde o mercado público seja não apenas eficiente, mas também um catalisador de desenvolvimento para todos os envolvidos.
Até a próxima!
Luz, hoje e sempre!
Daniela Triñanes