09/09/2020
Projeto resgata cidadania de mulheres em vulnerabilidade e doa máscaras
Kizy Kaoana, 38, trabalhava numa perfumaria em Santo André (ABC). Com diabetes, foi afastada da função durante 20 dias no início da pandemia e depois dispensada. O estabelecimento faliu e não pagou os funcionários. Solteira, vive com o filho de 11 anos no Jabaquara (zona sul de São Paulo) e sofreu até conseguir um novo emprego.
Ela é uma das 46 mulheres que trabalham no projeto #EuCuido. A iniciativa do Hospital Albert Einstein, Sistema B, Din4mo, Grupo Gaia, Blend e Movimento EuVistoOBem, emprega detentas, egressas do sistema prisional, imigrantes e refugiadas em duas oficinas de costura. O movimento não tem fins lucrativos.
Uma unidade do projeto funciona dentro do CPP (Centro de Progressão Penitenciária) Feminino Dra. Marina Marigo Cardoso de Oliveira do Butantan e a outra num galpão na Vila Leopoldina (zona oeste).
As pessoas chegam ao movimento sem sonhos, perspectivas e nem vontade. Saem transformadas, com visão de futuro e objetivos concretos, afirma uma das gestoras do movimento, Luciana Leal, 33. Segundo a fundadora do movimento, Roberta Negrini, 42, as máscaras produzidas são vendidas nas drogarias São Paulo e Pacheco, no Empório Santa Maria e nas lojas da rede St Marche.
Até o fechamento da reportagem, o movimento havia doado 43.690 máscaras. A meta é chegar a 500 mil. Pessoas físicas e jurídicas, e instituições de todo o país podem participar da ação.
O Grupo Gaia é o responsável pela distribuição das peças às instituições cadastradas no site, cerca de 40 foram beneficiadas. As doações direcionadas, ou seja, caso a pessoa desejar indicar a entidade que receberá as máscaras, só podem ser feitas se a compra for de grandes quantidades.
Até o momento, cerca de 50 mulheres já passaram pelo projeto. Atualmente, o #EuCuido tem 46 trabalhando, sendo 24 no presídio. Além de brasileiras, há imigrantes da Bolívia, Venezuela e do Congo.
Um grupo fica responsável pela costura e outro no controle de qualidade, onde o produto é limpo, higienizado, embalado e encaixotado para a destinação final.
O tecido utilizado é sustentável, da EcoSimple, cuja fabricação é feita com polímeros de reciclagem de garrafas pet e algodão orgânico.
O Movimento #EuCuido teve início em abril e não tem prazo para terminar. O projeto estuda a confecção de uniformes escolares e máscaras para a volta às aulas com tecnologia HeiQ Viroblock. Os modelos estão em processo de desenvolvimento. A ideia inicial é que uma escola privada doe para uma pública.
A reportagem visitou a oficina do #EuCuido da Vila Leopoldina. O ambiente segue o protocolo de cuidados que devem ser tomados para prevenir a infecção pelo novo coronavírus, como uso de máscaras, de álcool gel e distância de pelo menos 1,5 metro entre as pessoas.
Residente na Mooca (zona leste), antes da pandemia trabalhava em uma loja do Brás (centro). Ficou desempregada e conta que não recebeu o salário do último mês que havia trabalhado.
Há dois anos, o filho João Leandro, 7, faz tratamento contra leucemia na Tucca (Associação para Crianças e Adolescentes com Câncer). A última sessão de quimioterapia está marcada para 28 de agosto.
Sem dinheiro para o sustento da família e com aluguel e dívidas em atraso, Olívia procurou emprego. Através de uma rede social ficou sabendo da oportunidade no projeto. Dois meses de trabalho foram suficientes para colocar as contas em dia. Além disso, ela ajuda o pai, que mora na Bolívia e tem problemas de saúde.
confeccionada por mulheres que têm histórias e por trás delas há famílias, mulheres que se encontram em situação crítica. As pessoas não compram só uma máscara, mas a esperança e o sonho de cada costureira, de ter um salário e trabalhar por algo digno. Estou muito feliz aqui, porque sou tratada com dignidade, respeito e amor, afirma Olívia.
Fonte: Folha de São Paulo/Patrícia Pasquini